"Por outro lado, todo sistema com abundância de um elemento leva a escassez de outro. No caso, a abundância de informação leva a escassez de atenção. Temos uma vasta oferta e uma fome interminável, porém uma capacidade cada vez mais limitada de prestar atenção e investir tempo no consumo de todo esse manancial que nos está sendo ofertado. Estamos à frente de um banquete, beliscando rapidamente um pedacinho de tudo que nos põem na frente, maravilhados com a variedade e quantidade de sabores, mas perigando perder lentamente a noção de desfrute.
Até pouco tempo atrás, a palavra consumismo era associada a um comportamento compulsivo de compra. Entretanto, é hora de alargar essa convenção e começar a incluir também o que é absorvido ou adquirido sem pagar nada. Todas as páginas de internet. Seus vídeos. Os arquivos de MP3. As imagens. Quais são as reais diferenças entre um closet abarrotado de vestidos caros que pouco serão usados e HD’s inteiros de seriados, filmes e música que, da mesma forma, precisariam de algumas centenas de anos para serem desfrutados e não apenas consumidos rapidamente?"
Gustavo Mini e “os limites da cultura digital”.
Em um mar de opções, é importante saber selecionar o que há de mais relevante. Essa peneira pode ser feita via tecnologia ou através do olhar pessoal. Você pode contar com “filtros humanos”, via contatos em redes sociais e acompanhando especialistas em blogs ou no twitter, por exemplo.
Antes, os responsáveis por essa triagem eram externos (a indústria cultural, família, colégio, dinheiro etc). Hoje, cabe a você definir o que é importante, “customizar” seus interesses e as fontes apropriadas. Sem foco, a atenção se vai e a relação soa superficial. O que é retido acaba sendo uma lembrança vaga, quando algo é absorvido. E a fadiga da informação se faz presente.
Curiosamente, temos mais cuidado com objetos eletrônicos do que conosco. Ao usar o computador, não raro escuto alguém dizer que ele precisa ser desligado porque está funcionando há muito tempo. A memória RAM do micro, grosso modo, funciona como a memória recente do computador. Quando usada por muito tempo, fica mais lenta.
Algo similar acontece conosco. Mas em um mundo que cada vez mais nos conecta (internet, celular etc.), soa estranho pensar em pausas e descansar a mente. Não apenas para que ela se renove, mas também para absorver essas novas informações. No sono, guardamos informações. Por isso, não adianta estudar noite adentro e dormir pouco e mal. O resultado é oposto ao objetivo buscado. Na prática, podemos estar alertas, mas pouco atentos.
Isso vale também para outras atividades. Buscamos aproveitar cada minuto da nossa agenda, sem pensar no descanso. O estresse é um sintoma da sobrecarga de atividades. O corpo diz não, mas teimamos em continuar.
Tentar ser mais seletivo nem sempre é visto como algo saudável. Temos de apostar em consumir mais (músicas, filmes, diversão etc.) A relação com obras culturais por vezes é pueril, rala. Tudo tem de fazer sentido rapidamente: o riso tem de vir mais rápido, a canção tem de ser pegajosa, o filme dramático tem de provocar emoções exacerbadas e intensas. As reações são polarizadas: tudo é ótimo ou bastante ruim. Mas... É difícil apreciar a vista quando o horizonte está em constante mudança.