Veneza, uma viagem no tempo

Veneza foi o destino que mais me impressionou visitar. A forma como a cidade foi construída é igualmente fascinante. Formada por mais de 100 ilhas, Veneza foi erguida, há 15 séculos, sobre lama, madeira e água. 

Uma das estratégias foi desenvolver um 'bosque submarino'. Para isso, foram utilizadas milhares de estacas de madeira cravadas no solo lamacento para sustentar as construções. Essa técnica permitiu que os venezianos erguessem palácios, igrejas e pontes.

Outras cidades italianas apresentam labirintos de canais, como Comacchio e Chioggia, mas nenhuma delas alcançou a notoriedade de Veneza. 


Opera Air, um browser para uma navegação mais tranquila

Conheça o Opera Air, um browser que combina a experiência de navegação com ferramentas para promover atenção plena e relaxamento. O aplicativo pode ser baixado gratuitamente

Uma das principais funcionalidades do Opera Air são as pausas programadas. Você pode escolher entre diferentes tipos de exercício, como respiração profunda, alongamento do pescoço, meditação e varredura corporal. É possível ajustar a duração das pausas de acordo com a sua necessidade, de 3 a 15 minutos.

O Opera Air também utiliza batimentos binaurais, uma técnica que combina duas frequências sonoras distintas. Embora não haja consenso na literatura científica, esses sons são associados a alguns benefícios, como promover o relaxamento, a concentração e a criatividade.

A Janela de Overton: Como ideias se tornam realidade

A teoria da "janela de Overton" explica como ideias inicialmente consideradas radicais podem se tornar consensos sociais. Esse processo envolve uma gradual mudança na percepção pública, na qual pensamentos antes inimagináveis se tornam cada vez mais presentes -e aceitos- pela opinião pública. 

A proposta foi idealizada por Joseph P. Overton, jurista e pesquisador de políticas públicas dos Estados Unidos. Sua teoria nos mostra como as ideias evoluem ao longo do tempo, passando de marginais a dominantes. 

Podemos pensar na sociedade como um filtro que seleciona quais ideias podem ser discutidas abertamente. Inicialmente, uma ideia pode não passar pelo crivo desse filtro, sendo considerada radical ou até mesmo absurda. Entretanto, o filtro pode ser rompido ao longo do tempo.

Inicialmente rejeitadas como inaceitáveis, as ideias podem ganhar força através do debate público ao serem assimiladas por grupos sociais menores. A coletividade ainda não aceita a premissa, mas ela começa a circular como um conceito "radical". 

Na sequência, a ideia evolui para um estágio em que é considerada digna de debate racional, sem ser imediatamente descartada. Quando uma ideia alcança este ponto, ela é considerada razoável pela maioria, tornando-se um consenso social que pode ser transformado em regra ou política pública.


O encontro que inspirou "Antes do Amanhecer"

 

Em 27 de janeiro de 1995, há 30 anos, 'Antes do Amanhecer' ('Before Sunrise', 1995), de Richard Linklater, chegava aos cinemas. Os encontros (e desencontros) de Celine e Jesse seguiram em mais dois filmes, 'Antes do Pôr-do-Sol' (2004) e 'Antes da Meia-Noite' (2013).

Após assistir a esse filme, um "big bang" ocorreu dentro de mim. Eu tinha 15 anos. 

Gosto da ideia transmitida pelo filme: uma relação baseada no diálogo. A partir dessa experiência, passei a valorizar a comunicação como base para o vínculo. Quando as ideias se encontram e a conversa flui, a conexão se aprofunda.

***

'Antes do Amanhecer' é baseado em uma experiência de seu diretor. Richard Linklater conheceu Amy Lehrhaupt em 1989, quando ela visitava uma irmã nos EUA. Ele tinha 29 anos; ela, 20. Se conheceram em uma loja de brinquedos. Andaram e conversaram noite adentro, até às seis da manhã. 'Antes do Amanhecer'.

Uma noite romântica aproximou um casal de continentes distintos. Chegaram a trocar ligações depois do contato inicial, mas o romance não prosseguiu.

***

Richard sonhou que Amy aparecia de surpresa na pré-estreia do primeiro filme, que romantiza a aproximação entre eles. Algo similar ocorre na continuação, 'Antes do Pôr do Sol': sem avisar, Celine aparece no lançamento do livro de Jesse, na França. 

O romance de Amy e Richard seguiu como memória. Richard ficou por anos sem notícias de Amy. Em 2010, soube que ela havia morrido em acidente de moto em 1994, pouco antes do início das gravações de 'Antes do Amanhecer'. Ao final do terceiro filme, surge o nome de Amy.

O olhar estrangeiro

Como somos percebidos pelos outros? Um fotógrafo norte-americano que não possui pernas embarcou em uma jornada pessoal para documentar as reações das pessoas ao se depararem com a diversidade humana. Para se locomover, Kevin Connolly utiliza um skate. O trabalho virou um site intitulado "Rolling Exhibition". Foram registradas mais de 32 mil fotos

Segundo Connolly, que nasceu sem pernas, as reações são diversas. Na Ucrânia, perguntaram se ele era um homem santo. O lampejo para o projeto ocorreu em Viena. Lá, a maioria das pessoas achava que Connolly era indigente, o que o fez se sentir isolado.

Connolly diz que teve de “aprender” a carregar o “fardo de ser encarado pelas pessoas” e, ainda assim, se sentir confortável nesta situação. A experiência também foi contada no livro "Double Take: A Memoir".

Biografia do silêncio


Senti raiva ao ler esse livro. Muitas vezes, inclusive. Explico. Geralmente, levo no transporte coletivo um livro com capítulos menores, caso de “Biografia do silêncio”. Assim, posso ficar atento à leitura e ao que me circunda, como observar se meu ponto se aproxima. Entretanto, esse livro é tão bom que mergulhei nele completamente. E quase perdi a parada diversas vezes.

“Biografia do silêncio” é uma obra de múltiplas qualidades. Ele te ganha tanto pela força do relato quanto por sua escrita poética. O livro desperta uma fome de serenidade, de dias com menos ruído. 

A prosa de Pablo d’Ors é outra virtude. Seu relato é dominado pelo lirismo. Dá vontade de ler a obra em um único momento. 

Apesar da boa prosa, abraçar o silêncio não é algo simples. Pablo fala da dificuldade de manter o foco. Não raro, o autor sente tédio ou sua mente se distrai. 

Se você procura um manual de meditação, esse livro não é para você. Ele não é um guia, não traz um passo a passo. A força do título é mostrar como observar o silêncio pode contribuir para a paz individual. E como isso serve de base para a construção de si.

"Brain rot": O alto preço que pagamos pelo consumo ininterrupto de conteúdo online

Rolar a tela do celular por horas a fio, consumindo conteúdos banais e sem perceber o tempo passar. Se você se identificou, há uma expressão para isso: "brain rot". A tendência é tão presente em nosso cotidiano que se tornou a palavra de 2024, segundo o Dicionário de Oxford.

Mas o que significa "brain rot"? Em tradução livre, a expressão pode ser entendida como "cérebro apodrecido" ou "atrofia cerebral". De acordo com o dicionário, a expressão descreve um declínio nas habilidades mentais e intelectuais, atribuído ao hábito de consumir grandes quantidades de conteúdo online que não exige esforço mental.

Embora a expressão tenha se tornado popular recentemente, a ideia por trás dele não é nova. O escritor Henry David Thoreau já utilizava uma expressão similar em seu livro "Walden, ou A vida nos bosques" no século XIX, para criticar a tendência da sociedade de simplificar ideias complexas.

A popularização do termo "brain rot" nos alerta para a necessidade de refletir sobre nossos hábitos de consumo de conteúdo. A constante busca por novidades e distrações virtuais pode nos levar a uma sobrecarga de informações e prejudicar nossa capacidade de concentração e de pensamento crítico.

A potência do agora

Um estudo do psicólogo Richard Wiseman revela que quase 90% das resoluções de ano novo não saem do papel. A famosa "síndrome da segunda-feira" nos sabota mais vezes do que gostaríamos de admitir.

Planejar é essencial, mas a ação é o que transforma ideias em realidade. A sabedoria hindu nos ensina que a intenção pode nos guiar para o futuro, mas é a atenção no presente que materializa nossas conquistas

Talvez o problema esteja em nossa relação com o tempo. Frequentemente, nos apegamos ao passado ou projetamos nossas expectativas no futuro, deixando de viver o presente. O filósofo Dzongsar Khyentse Rinpoche nos lembra que, com o tempo, não encontramos as respostas, mas sim perguntas mais inteligentes. Isso significa que a jornada da vida é um processo contínuo de aprendizado.

O budismo nos ensina que a realidade reside no momento presente. A impermanência, princípio fundamental dessa filosofia, nos revela a natureza transitória de todas as experiências: tudo está em constante fluxo. Ao reconhecer essa verdade, libertamo-nos da prisão do sofrimento, cultivada pelo apego e aversão. Essa libertação nos permite transcender o tempo, vivendo cada momento sem nos prender ao passado ou ao futuro. A prática da atenção plena, central ao budismo, nos permite vivenciar cada instante com clareza e sabedoria.

A física nos oferece outra perspectiva sobre o tempo. Um segundo equivale a 9.192.631.770 oscilações de um átomo de césio-133. Nesse momento, a vida acontece. 

Marcelo Gleiser, conceituado físico, foi a fonte desse aprendizado. Para ele, o tempo é uma medida de mudançaCada segundo é único, não se repete. Nossa percepção do tempo, no entanto, é subjetiva e depende de como vivenciamos cada momento. Quando estamos engajados em uma atividade que nos interessa, o tempo parece passar mais rápido. Por outro lado, no tédio, os ponteiros do relógio se arrastam.

Tal reflexão nos leva a uma importante pergunta: estamos realmente vivendo o presente? Al Pacino, após o lançamento do filme O Poderoso Chefão, recebeu enorme destaque. O ator descreveu a sensação como "seu dia ao sol". A vida é feita de momentos únicos, e cada um de nós tem a capacidade de criá-los. Que a chama da realização acenda em cada um de vocês. O contentamento é a recompensa de uma jornada ativa.

Imagem via Flickr

A enganosa avalanche do consenso nas redes sociais


Você já se perguntou como algumas ideias e opiniões parecem prevalecer nas redes sociais, muitas vezes moldando debates e influenciando decisões? A resposta pode estar em uma técnica conhecida como "avalanche de consenso", desenvolvida há quase três décadas por Gianroberto Casaleggio, um ex-engenheiro da Olivetti. O tema foi debatido em coluna recente do jornalista Pedro Doria

A premissa é simples: ao controlar um pequeno número de perfis falsos, é possível influenciar a opinião pública em grande escala. Ao inundar as redes sociais com mensagens e comentários direcionados, esses perfis criam a ilusão de um consenso generalizado em torno de determinado assunto. A psicologia humana entra em jogo: tendemos a concordar com o que parece ser a opinião da maioria.

Essa técnica se aproveita da nossa tendência a formar "bolhas" nas redes sociais, nas quais somos expostos principalmente a conteúdos que corroboram nossas crenças pré-existentes. Ao manipular essas bolhas, é possível reforçar vieses e polarizar debates.

Mas como isso funciona na prática? Agências especializadas podem ser contratadas para coordenar campanhas de desinformação, utilizando múltiplos perfis falsos para disseminar notícias falsas, teorias da conspiração e ataques. Ao criar uma onda de posts negativos sobre um indivíduo ou uma ideia, essas agências podem minar a reputação de seus alvos e influenciar a opinião pública.

E como você pode evitar isso? Para navegarmos de forma autônoma pelas complexidades da era digital, é fundamental cultivar o senso crítico. Ao cultivar a habilidade de questionar, buscar diferentes pontos de vista e desconfiar de informações que geram emoções fortes, fortalecemos nossa autonomia e tomamos decisões mais assertivas.

Imagem via Flickr

Qual a origem da vontade de consumir?

O período de festas de fim de ano, marcado por celebrações familiares, também coincide com um aumento no consumo. O problema central reside na cultura do consumo por desejo, e não por necessidade, fomentada pela publicidade que vende estilos de vida e valores simbólicos. Para uma compreensão aprofundada de como as marcas são construídas e dos métodos de sedução e convencimento utilizados pela publicidade, o documentário The Persuaders é uma excelente recomendação (assista online).

Essa cultura afeta drasticamente as crianças, transformando-as em consumidoras antes mesmo de desenvolverem plena cidadania. A legislação brasileira, menos rigorosa em relação à publicidade infantil quando comparada a outros países, agrava essa situação. 

A psicóloga Rosely Sayão já constatou a dificuldade das crianças em reconhecerem e valorizarem os presentes que já possuem, enquanto demonstram grande facilidade em listar desejos de consumo. O saudoso Contardo Calligaris, por sua vez, utiliza o termo "criançultos" para descrever a infantilização do consumidor, fruto de um amor parental que gera indivíduos com baixa tolerância à frustração e busca por gratificação instantânea.

*** 

No topo do post, o ótimo documentário Criança, a Alma do Negócio, dos cineastas Estela Renner e Marcos Nisti. Outra boa pedida sobre o tema é conferir o documentário A história das Coisas.


Liberdade de escolha gera apenas bem-estar?

 

Em um mundo cheio de possibilidades, o psicólogo Barry Schwartz nos faz pensar sobre o quanto escolher pode ser difícil. Para ele, acreditar que ter muitas opções traz mais liberdade e bem-estar é uma ilusão. Isso, na verdade, pode nos deixar paralisados e insatisfeitos.

Basta ver a quantidade de opções diferentes nos supermercados, lojas de eletrônicos, tratamentos de saúde e até mesmo nas nossas vidas pessoais para entender como isso pode gerar indecisão e frustração. Inclusive, a busca pela perfeição e a constante comparação com alternativas imaginadas, segundo o autor, intensificam a possibilidade de arrependimento, mesmo diante de boas decisões.

PS - Essa é a primeira palestra TED que vejo em que o convidado está de calção. Uma boa escolha.

Dreamscrolling: navegando pelos sonhos de consumo na era digital

 

Em um mundo cada vez mais conectado, no qual as informações e as ofertas estão a um clique de distância, surge um novo hábito: o dreamscrolling.

O termo, que pode ser traduzido como "sonhar rolando a tela", define o ato de imaginar a compra de algum produto ou experiencia, navegando por sites, aplicativos e redes sociais.

Um estudo da empresa de serviços financeiros Empower revelou que esse comportamento está se tornando cada vez mais comum, especialmente entre os norte-americanos.

A pesquisa indica que, em média, as pessoas passam 2,5 horas por dia explorando as vitrines virtuais e alimentando sonhos de consumo.

Imagem via Flickr

O ego e o erro

 "Se você se apega a uma crença, é difícil ver a evidência contrária e reconhecer que está equivocado. Se é capaz de reconhecer o erro, o próximo passo é admiti-lo publicamente, o que envolve outras apostas: serei humilhado, as pessoas aceitarão o erro, terei de pagar por isso?  Por razões culturais, associamos erro a estupidez, irresponsabilidade, preguiça ou falta de esforço."

Kathryn Schulz, no livro "Por que Erramos?", nos mostra como o erro é fundamental para o aprendizado. Ao errar, somos forçados a reavaliar nossas ideias e a construir novas perspectivas. Já o acerto, por confirmar nossas crenças, muitas vezes impede que busquemos novas informações e evoluamos.

Para ela, erramos porque nossos sentidos nos enganam. Ilusões de ótica e a cegueira automática demonstram como percepções podem estar equivocadas. Além disso, somos seres sociais e nossas crenças são moldadas pelas pessoas ao nosso redor. Essa combinação de fatores nos torna suscetíveis a erros de julgamento.

A autora defende que há diferentes tipos de erros. Em alguns, há negligência ou má intenção. Nesses casos, o perdão não anula a responsabilidade pela ação.

Schulz salienta que o problema não está em errar, mas em como lidamos com isso. Insistir em estar certo, mesmo diante de evidências contrárias, pode gerar conflitos e prejudicar relacionamentos. É a negação do erro, e não o erro em si, que causa danos.

A falibilidade humana é inerente a qualquer atividade. A distinção entre o certo e o errado pode ser complexa e mutável ao longo do tempo. A atribuição de culpa a indivíduos, em detrimento da análise sistêmica, dificulta a identificação das causas profundas dos erros e a implementação de medidas corretivas eficazes.

O problema é que a vida digital potencializou a necessidade da retidão. O êxito (externo) vira cobrança pessoal. A conquista só é válida quando desperta a atenção dos demais. A atitude, tão louvada no discurso, só vale quando legitimada pelo coletivo. A virtude requer plateia. 

DaZi: A nova tendência de conexões sociais por conveniência que vem da China

A forma como construímos relacionamentos está em constante evolução. E a China nos apresenta mais uma novidade: o DaZi. Essa expressão, que significa algo como "companheiro", se refere a um tipo de amizade por conveniência, no qual as pessoas se juntam para atividades específicas sem o compromisso de um vínculo mais profundo.

Imagine encontrar alguém online para ir ao cinema, fazer um curso ou simplesmente bater um papo. Essa é a essência do DaZi. É como pedir um amigo sob demanda, para compartilhar momentos específicos sem se preocupar com a dinâmica de uma amizade tradicional.

O objetivo do DaZi é estabelecer uma conexão social temporária, sem implicações emocionais ou obrigações posteriores. Ou seja, o relacionamento é encerrado após a conclusão da atividade em questão.

De acordo com uma pesquisa da plataforma Soul, os principais interesses dos usuários do DaZi são: gastronomia (49,4%), eventos culturais (43,7%) e atividades físicas (27,4%).

Por que o DaZi está se popularizando?

  • Flexibilidade: O DaZi oferece liberdade para as pessoas se conectarem sem rótulos ou expectativas.
  • Praticidade: É uma forma rápida e fácil de encontrar companhia para diversas atividades.
  • Geração Z: Essa nova geração, que nasceu a partir de 1997, valoriza experiências e conexões mais leves e descompromissadas.

Os desafios do DaZi:

  • Falta de profundidade: As relações baseadas no DaZi podem ser superficiais e descartáveis, o que pode levar a sentimentos de vazio e solidão.
  • Isolamento: A busca constante por novas conexões pode dificultar o desenvolvimento de amizades mais sólidas e duradouras.
  • Falta de compromisso: A ausência de vínculo pode gerar insegurança e desconfiança nas relações.
Imagem via Flickr

A geração sintética

A tecnologia, desde a mais primitiva ferramenta até a sofisticada inteligência artificial, molda nossas vidas e define quem somos. A cada era tecnológica, surge uma nova geração com uma relação única com esses recursos. Tentar compreender como a próxima geração se relacionará com a tecnologia é o tema desse ótimo artigo. O texto foi escrito por Stephanie Jorge, publicitária com pós-graduação em ciência de dados pela USP e fundadora do Torabit, serviço de monitoramento e gestão de presença digital, e Caio Túlio Costa, jornalista, doutor em comunicação pela USP e também fundador do Torabit. 

Os autores diferenciam três grupos, os nativos analógicos, digitais e algorítmicos (ou geração sintética). Os "nativos analógicos" experimentaram uma transição para o mundo digital. Aprender a usar um computador ou navegar na internet foi um processo de adaptação para eles. Por isso, eles tendem a valorizar mais as interações humanas e dão maior importância ao equilíbrio entre mundo virtual e real.

Já os "nativos digitais" cresceram imersos em um ambiente tecnológico. Smartphones, computadores e internet são extensões de suas vidas. Essa familiaridade com a tecnologia os torna ágeis e adaptáveis, mas também os expõe a novos desafios, como a dependência digital e a sobrecarga de informações.

No entanto, a evolução tecnológica continua em ritmo acelerado. A inteligência artificial (IA) está transformando todos os setores da sociedade, e a próxima geração, os "nativos algorítmicos", crescerá em um mundo no qual a IA estará presente em todos os aspectos da vida. A IA moldará suas experiências de forma personalizada, desde a educação até as relações sociais. Algoritmos ajustarão seus processos de aprendizado, suas interações e até mesmo suas escolhas, tornando a tecnologia um elemento ainda mais intrínseco de suas vidas.

Em relação à comunicação, a geração sintética poderá experimentar uma realidade linguística diferente. A fusão com a IA pode levar a um discurso gramaticalmente correto. No entanto, essa evolução levanta questões sobre a identidade humana. Se nosso pensamento, comportamento e expressão forem moldados por algoritmos, até que ponto manteremos nossa individualidade? 

"A experiência humana, com todas as suas contradições e incertezas, é marcada justamente pelo erro, pela imprevisibilidade, pela tentativa. Se cada palavra, cada gesto for calibrado para a versão 'ideal', o que será feito de nossa autenticidade? A geração sintética terá uma voz híbrida, uma fusão do humano com o algoritmo."

O texto conclui que os nativos algorítmicos poderão dominar uma linguagem mais precisa e elaborada, mas correm o risco de perder a espontaneidade e a imprevisibilidade que tornam a comunicação humana tão rica e variada. A busca pela perfeição linguística pode levar a uma padronização da expressão, diminuindo o espaço para a criatividade e a originalidade.

Imagem via Flickr