A tecnologia, desde a mais primitiva ferramenta até a sofisticada inteligência artificial, molda nossas vidas e define quem somos. A cada era tecnológica, surge uma nova geração com uma relação única com esses recursos. Tentar compreender como a próxima geração se relacionará com a tecnologia é o tema desse ótimo artigo. O texto foi escrito por Stephanie Jorge, publicitária com pós-graduação em ciência de dados pela USP e fundadora do Torabit, serviço de monitoramento e gestão de presença digital, e Caio Túlio Costa, jornalista, doutor em comunicação pela USP e também fundador do Torabit.
Os autores diferenciam três grupos, os nativos analógicos, digitais e algorítmicos (ou geração sintética). Os "nativos analógicos" experimentaram uma transição para o mundo digital. Aprender a usar um computador ou navegar na internet foi um processo de adaptação para eles. Por isso, eles tendem a valorizar mais as interações humanas e dão maior importância ao equilíbrio entre mundo virtual e real.
Já os "nativos digitais" cresceram imersos em um ambiente tecnológico. Smartphones, computadores e internet são extensões de suas vidas. Essa familiaridade com a tecnologia os torna ágeis e adaptáveis, mas também os expõe a novos desafios, como a dependência digital e a sobrecarga de informações.
No entanto, a evolução tecnológica continua em ritmo acelerado. A inteligência artificial (IA) está transformando todos os setores da sociedade, e a próxima geração, os "nativos algorítmicos", crescerá em um mundo no qual a IA estará presente em todos os aspectos da vida. A IA moldará suas experiências de forma personalizada, desde a educação até as relações sociais. Algoritmos ajustarão seus processos de aprendizado, suas interações e até mesmo suas escolhas, tornando a tecnologia um elemento ainda mais intrínseco de suas vidas.
Em relação à comunicação, a geração sintética poderá experimentar uma realidade linguística diferente. A fusão com a IA pode levar a um discurso gramaticalmente correto. No entanto, essa evolução levanta questões sobre a identidade humana. Se nosso pensamento, comportamento e expressão forem moldados por algoritmos, até que ponto manteremos nossa individualidade?
"A experiência humana, com todas as suas contradições e incertezas, é marcada justamente pelo erro, pela imprevisibilidade, pela tentativa. Se cada palavra, cada gesto for calibrado para a versão 'ideal', o que será feito de nossa autenticidade? A geração sintética terá uma voz híbrida, uma fusão do humano com o algoritmo."
O texto conclui que os nativos algorítmicos poderão dominar uma linguagem mais precisa e elaborada, mas correm o risco de perder a espontaneidade e a imprevisibilidade que tornam a comunicação humana tão rica e variada. A busca pela perfeição linguística pode levar a uma padronização da expressão, diminuindo o espaço para a criatividade e a originalidade.
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