Atualmente, usamos nossa voz como arma retórica para o patrulhamento. Muitas vezes, a crítica surge disfarçada de humor. Mas há uma diferença entre espírito analítico e cinismo, essa arma “moderna” de combate discursivo.
O alvo da crítica vai além da discordância. É possível negar o que não se possui (e gostaria de ter). Em casos extremos, eu quero que algo seja proibido porque desperta meu desejo. Queremos impor aos demais o silêncio que grita em nós. O eterno Contardo Calligaris fez uma distinção importante entre moralizador e homem moral:
“O moralizador e o homem moral são figuras diferentes, se não opostas. 1) O homem moral se impõe padrões de conduta e tenta respeitá-los; 2) O moralizador quer impor ferozmente aos outros os padrões que ele não consegue respeitar.”
A cultura do cancelamento é atemporal. Não importa quem você é. Ou o momento atual. O tribunal inquisidor avança e recua no tempo, pois vigia todos os passos. Aliás, o crime nunca prescreve: Acusações virtuais ecoam sem fim. O ciberespaço, povoado por ditos progressistas, reedita a "A Letra Escarlate".
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