Oprah Winfrey botou uma bela capa numa edição da sua revista. A matéria principal você encontra aqui. Um dos tópicos, que fala sobre sobre acampamentos artísticos, prega: arrume as malas e deixe sua criatividade florescer.
Essa tendência de valorizar produtos e serviços feitos com as próprias mãos está no começo de uma nova fase: dessa vez, não há recorte geracional tão claro. O bordado da vovó adorna o estilo de jovens antenados.
Não se trata apenas da mera valorização do que é tradicional, de resgate da produção regional: para além da diferenciação de grupos étnicos, essa prática serve para dar conta da identidade de quem opta por esse caminho. Para isso, são utilizadas diversas tradições, muitas distantes da sua comunidade original. Pessoas possuem interesses múltiplos, e querem transformar em hábitos e produtos essas referências. A internet atua como uma porta de entrada para outras possibilidades. É a premissa do “Pense globalmente, aja localmente” sendo adotada no universo particular.
Mesmo símbolos tradicionais, como alianças de casamento, são forjados manualmente por quem irá utilizá-los. Há empresas que disponibilizam esse tipo de serviço. O pacote inclui curso de criação do produto. A ideia é tornar a experiência mais pessoal: produtos traduzem interesses individuais. Uma aliança que homenagear o jogo Dungeons and Dragons? É possível.
O mundo digital acolhe essa onda. O Etsy e o descolado Tumblr são espaços virtuais em que a produção DIY (Do It Yourself; faça você mesmo) recebe atenção privilegiada. Através de criações caseiras, pessoas expressam facetas da sua personalidade. Exemplo: no Tumblr, manicure é sinônimo de grande investimento pessoal.
O contato inicial é facilitado através de tutoriais diversos. Muitos deles em vídeo. Grande parte traz orientações de beleza ou vestuário (como se maquiar; passo-a-passo para fazer tricô ou bordado…), mas é possível encontrar vídeo aulas sobre uma infinidade de técnicas.
O impacto na moda é uma evolução natural. Num cenário de valorização do estilo pessoal, faz sentido abraçar irrestritamente tendências massificadas? Dessa forma, blogs de moda diversificam sua atuação. O espaço que realizada trabalho de curadoria das peças vira também ambiente para troca de experiências.
Essa prática faz parte de um fenômeno maior, já que não se restringe a quem produz o que consome. A cultura retrô é uma característica da “geração shuffle”, que mistura práticas e costumes de várias épocas.
Não se trata de uma negação dos avanços tecnológicos, até porque muitas das ferramentas atuais são utilizadas nessa tendência nostálgica. O resgate de técnicas antigas pode ser observado pela popularidade conquistada pelos aplicativos que adicionam filtros em fotos, como o Instagram. Daniela Bertocchi, especialista em mídias digitais, explica que:
“Os aplicativos que exploram […] o retorno à imperfeição, aos defeitos das máquinas antigas, a um tempo mais romântico, o alcançam, porque nós vivemos numa época muito centrada na tecnologia, no robô, naquilo que é frio e racional. Uma forma de humanizar isso é retornar ao tempo em que a máquina era menos precisa, conseguia resultados não tão satisfatórios. E atendem às demandas da cultura digital, porque são mobile, registram a experiência como imagem, informam a localização, o que torna todo o processo mais lúdico e divertido”