O poder da crítica geralmente foi relativizado pelos artistas e a indústria do entretenimento. Alguns a tratam com desdém, outros oferecem argumentos mais elaborados. Como o cineasta Fernando Meirelles, diretor de “Cidade de Deus” e “O Jardineiro Fiel”, que certa vez comentou que o crítico analisa a obra que ele gostaria de ver, e não a criação em si.
Mesmo questionável, essa relação de amor e ódio ganhou uma escala diferente nos tempos atuais. Graças à internet, essa atividade tem maior ressonância. Se antes uma avaliação ruim poderia ser suplantada por citações de trechos positivos de outras análises (o que pode ser visto nos cartazes dos filmes), agora uma obra pode observada a partir de um ponto de vista coletivo. Há sites que catalogam as resenhas mais relevantes e fazem uma média geral da avaliação da crítica.
Recentemente, chegou ao fim o verão norte-americano. Os estúdios de cinema aproveitam o período para lançar filmes de grande apelo junto ao público jovem. Nesse ano, porém, a estratégia não funcionou. Alguns analistas indicam que os tempos de ouro não voltam mais, visto que o cinema disputa espaço com diversas formas de entretenimento, como games.
Na indústria do cinema, há quem tenha feito autocrítica, apontando que outros meios, como Netflix e canais por assinatura, investem em tramas mais elaboradas, não havendo muita razão para sair de casa. Até porque, no período, são lançados cada vez menos títulos para o público adulto. Hollywood prefere reforçar uma fórmula esgotada, apostando em continuações e adaptações (de quadrinhos e games).
A meca de Hollywood, porém, elegeu um grande culpado, o agregador de críticas Rotten Tomatoes. Para o diretor Brett Ratner, o site representa “ a destruição do nosso negócio.”
O Rotten Tomatoes existe há quase 20 anos, mas só recentemente começou a ser contestado. O site traz dados sobre filmes e programas de TV. Basta digitar o nome da obra que ele fornece a nota média obtida. Em inglês.
Para os críticos do site, ao criar uma média baseada em diversas opiniões, o site sentenciaria o destino de uma obra de forma injusta. Uma crítica possui muitas nuances, e reduzir uma avaliação ampla a uma nota reforçaria ainda mais a dicotomia de um mundo binário, em que há apenas duas respostas possíveis. O Rotten Tomatoes responde que é bastante criterioso. Nos casos em que não fica claro qual a posição do crítico, a equipe do site entra em contato para esclarecimentos.
Não se trata do único serviço do tipo. O site Metacritic vai além das obras audiovisuais e também entrega a avaliação média de jogos eletrônicos, música e livros. Por outro lado, sua base de avaliação está centrada em tradicionais empresas de comunicação. O Rotten Tomatoes também capta a percepção das grandes marcas, mas não só. Sua base de dados é muito mais ampla. E democrática. Isso porque, se nas redações jornalísticas boa parte dos críticos de cinema são homens brancos, o Rotten Tomatoes olha para a internet, gerando um quadro plural.
A foto é do Flickr de Jon Jordan.