Artitude, zentusiasmo e aventurismo

Já havia falado sobre o blog Move That Jukebox no meu e-book Comunicação em Rede. Cito o trabalho deles como exemplo de novos agentes da comunicação que contam com grande capital social, mesmo sem vivência na indústria da informação tradicional.

A página sobre cultura pop foi criada há dois anos por sete adolescentes. Alex Correa, com quem conversei, tinha 15 anos na época. O mais velho, Gabriel Zorzo, 17. Hoje são três administradores ativos. Um deles faz parte do coletivo há pouco tempo. Neto Rodrigues entrou pra equipe, segundo Correa, e fez uma baita diferença. Procuravam um colaborador, mas Rodrigues vestiu a camisa do blog e veio cheio de energia — três semanas atrás, ele desistiu da faculdade de engenharia que cursava há dois anos pra investir na carreira de comunicação.

Embora a história da página seja curta, eles já foram indicados ao prêmio de melhor blog pela DJ Mag e chegaram à final do Best Blogs Brasil 2008 na categoria música. No início do ano passado, o Skol Beats considerou o MTJ um dos dez melhores blogs de música. Eram os únicos não-graduados da lista.

A seguir, a entrevista que fiz com Alex Correa.

Qual a rotina de atualização do blog? Que tipo de fonte utilizam para buscar informações? Os leitores tem participação ativa nesse processo de seleção de pautas?

As vezes chegamos a fazer seis, sete posts no mesmo dia. As fontes são diversas: Sites gringos ( NMEPitchfork e Stereogum, principalmente), blogs nacionais ( Bloody PopPoploadDominódromo, o pessoal d’ O Esquema etc.) e sites brasileiros maiores, como o rraurl ou a Rolling Stone. Também chega muita coisa por e-mails de assessores de imprensa e Twitter. O povo que nos lê também participa — se demoramos pra fazer uma notinha importante, por exemplo, eles reivindicam mandando replys, comentários ou dando um alô na nossa caixa de e-mails.

 Quais as diferenças entre manter um blog e o jornalismo tradicional? Aliás, blog é jornalismo?

Meu avô diz que a vizinha fofoqueira dele é uma excelente jornalista. O conceito pode estar errado, mas acho que é mais ou menos por aí: A partir do momento em que se está repassando informações e recebendo um feedback legal, por que você não seria um jornalista? Por que os blogs não seriam considerados uma nova vertente do jornalismo? Com a queda dos diplomas, acho que isso se confirma ainda mais. A diferença é que os blogs se comportam como um grande edital, onde as opiniões podem ser expressas livremente.

Hoje você colabora com outros sites, faz freelas. Muitos blogs não dão dinheiro, mas geram visibilidade para seus autores. Ou seja, mesmo um trabalho que começa como hobbie pode dar retorno financeiro. Blog é um meio efetivo de divulgação e networking para uma carreira?

Com certeza. Além da oportunidade de tirar algum lucro com divulgação ou publieditoriais, os blogs valem como um ótimo portfólio. Além de serem uma boa pedida pra botar no currículo, já ouvi algumas pessoas falarem sobre perguntas relacionadas à blogs, twitter e mídias sociais em geral em entrevistas de emprego. Mas eu ainda não cheguei nessa fase [risos].

No novo cenário musical, há uma democratização de acesso aos meios de divulgação e produção artística. Todavia, o processo ficou fácil para todos, gerando um excesso de opções. Como bandas iniciantes podem obter destaque nesse novo ambiente?

Com talento, inovação. Justamente por essa democratização, todo mundo passou a achar que é músico, mas não é bem assim. Hoje em dia, a gente até brinca que existem pencas de “bandas de MySpace”, um pessoal que faz música tão focado em suas inspirações e nas bandas que busca como referencial que acabam conseguindo um resultado bem próximo do plágio. Vale tentar se manter o mais longe dessa, uhn, cena (se é que posso chamá-la assim) e, claro, procurar fazer uma boa divulgação, manter um mailing com blogs, sites e revistas especializadas e evitar insistir demais — se gostarem de você, vão te procurar.

Nesse cenário de abundância de novos artistas, os blogs musicais viraram filtros para o público, fazendo um trabalho de triagem antes ocupado pelos críticos musicais?

Sem dúvida. Até pela periodicidade, é muito mais cômodo para o público buscar novas bandas por blogs especializados do que em grandes revistas. Isso não vale só para música, mas para todas as manifestações culturais.

Atualmente, afora alguns casos, os mais bem sucedidos nessa nova economia musical são artistas cuja carreira foi apoiada por gravadoras. São músicos que contaram com suporte dessas empresas, que investiram em bons produtores, assessoria de imprensa, estrutura de distribuição em todo o mundo etc. Para quem pretende viver de música, a solução é cada vez mais virar uma espécie de microempresário?

Insisto no que disse antes: o talento fala mais alto que tudo isso. O artista não precisa se tornar um canivete suíço pra chegar no auge. No Brasil, existem agências de assessoria de bandas e booking de shows que são extremamente efetivas com custos baixos, como a Agência Alavanca e a Tronco Produções. Já vi alguns grupos que ficaram completamente estagnados quando começaram a se transformar em uma pequena organização empresarial. Na minha opinião, o segredo é terceirizar. Você encontrará produtores, assessores e selos interessados em sua banda se o produto oferecido for realmente bom e promissor.

Quais os planos futuros do MTJ? Pretendem investir mais em conteúdo multimídia, conteúdo autoral, interação maior com o público, utilizar mais plataformas de comunicação, live blogging etc?

Com o Neto vieram várias idéias novas: Estamos na terceira edição da nossa mixtape quinzenal, que os leitores gostaram bastante, e nessa semana vamos lançar uma nova coluna onde descobriremos os gostos musicais de artistas e web celebs — seus guilty pleasures, as novas bandas que andam ouvindo, a trilha sonora de suas vidas e os clássicos preferidos. Também começamos a aumentar o número de sorteios e promoções que fazemos no blog. Agora, sortearemos ingressos para shows em diversas cidades semanalmente e também estamos preparando a segunda edição do Tupinambox, um box de dez CDs autografados por grandes talentos da cena indie brasileira que sorteamos pelo Twitter. Fizemos o livetwitting do Video Music Brasil desse ano e nos divertimos bastante, pode rolar mais vezes. Por enquanto, é isso.

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