Um estêncil de Banksy, de dois metros, escondido em Londres, pode ser revelado no mês que vem. A obra, registrada num prédio, ficou encoberta durante uma reforma.
Em se tratando de Banksy, 2017 foi um ano de supostas revelações. Há tempos, especula-se que Robert seria o verdadeiro nome do artista multimídia. A partir daí, os traços da real identidade são imprecisas. Durante muito tempo, a suposição dominante era Robert Banks. Recentemente, o DJ Goldie atualizou o sobrenome. Banksy seria Robert Del Naja, músico do grupo Massive Attack.
Essa teoria vinha ganhando força recentemente. A obra de Banksy costuma surgir por onde o genial grupo de triphop toca. A multiplicidade de opções sobre quem seria Banksy é ampliada por outra hipótese. Para alguns, Banksy representaria a obra de vários artistas. Robert Del Naja estaria envolvido, colaborando com seus desenhos e coordenando o coletivo.
A aproximação entre Banksy e Robert Del Naja, geralmente alardeada pela imprensa, nunca foi confirmada pelo próprio ou por alguém do mundo artístico. O jornalista Will Ellsworth-Jones chegou a escrever um livro sobre o artista de rua: Banksy: The Man Behind the Wall. Goldie, também grafiteiro, seria o primeiro do ciclo próximo a Banksy a confirmá-la. Ele, que já teria desmentido a informação, apenas citou o primeiro nome. Voltamos ao início. Banksy é… Robert.
“Em cima do muro”
Se o próprio nome permanece incerto, sua biografia é ainda mais nebulosa. Banksy teria começado a grafitar muros e trens nos arredores de Bristol, em 1993. Dependendo da fonte, sua data de nascimento varia de 1974 a 1978.
Nos raros momentos em que conversa com jornalistas, Banksy costuma mais embaralhar do que oferecer pistas certeiras. Em 2010, o jornal Sunday Times publicou uma extensa entrevista com ele. O artista comenta assuntos diversos, como família, o mundo da arte (“encontrei muitos vilões quando migrei do vandalismo para o negócio das artes“) etc. O próprio grafiteiro criou a capa da edição (abaixo).
No mesmo ano, Banksy estreou no cinema dirigindo o documentário Exit Through the Gift Shop. O filme é dominado pela relação do grafiteiro com outro artista: Mr. Brainwash, francês que, após receber apoio de Banksy, estourou em Los Angeles. Mesmo descrito como documentário, vários trechos da obra foram questionados.
Mantendo o mistério, Banksy não compareceu ao lançamento do filme no Festival de Berlim. Para apresentar a obra, um depoimento gravado foi exibido. Antes, o documentário já havia passado pelo festival de cinema Sundance, embora não tenha sido anunciado previamente na programação do evento.
“Artista vendido”
No mundo das artes plásticas, a biografia do artista reforça o valor da obra. A força das criações já garantiu a Banksy sucesso de crítica e público.
O mercado da arte acompanha a valorização do genial artista. Há dez anos, por US$ 576 mil um colecionador pode levar um Banksy (“Space Girl and Bird”) para casa. No mesmo ano, a pintura “Bombing Middle England” foi arrematada na casa de leilão Sotheby’s por US$ 202 mil.
Algumas obras evaporam antes de serem absorvidas pelo mercado da arte. Como o painel da estação Old Street do metrô londrino. Mesmo avaliado em US$ 600 mil, foi apagado pela administração do metrô. Justificativa: o desenho dava uma atmosfera de abandono e decadência ao local.
Os grafites de Banksy feitos em 2005 no muro que separa Israel da Cisjordânia também tiveram o mesmo destino. Os desenhos misturavam paisagens idílicas e ideias de liberdade e fuga, como janelas, escadas e balões de gás.
Para facilitar a contemplação dessa galeria em constante atualização, a TimeOut alimenta um mapa com os desenhos de Banksy em Londres.
A lógica da imprevisibilidade da arte de rua também alcança exposições oficiais. Muitas das suas obras já foram exibidas em museus. Algumas sem autorização. No Louvre, uma versão “smile face” da “Monalisa”. No MoMa, em Nova York, uma gravura com a lata de sopa Tesco foi exposta durante seis dias, sem que o museu percebesse a intrusa. No British Museum, uma pedra da era “pós-catatônica” -com o desenho de um homem, um touro e um carrinho de supermercado- permaneceu oito dias em exibição. A instituição só retirou o objeto depois de ser alertada pelo site do artista.
Sociedade anônima
Banksy ironiza quem paga tanto por suas obras, e já afirmou que muito do dinheiro pode ganhar o rumo da caridade. A critica à sociedade de consumo, tema recorrente em seus desenhos, sempre descobre novos caminhos.
Como piratear 500 CDs de Paris Hilton. Banksy fez novos remixes (juntamente com o DJ Danger Mouse), trocou o nome das faixas e substituiu a foto da socialite por um cachorro. Os CDs foram colocados em prateleiras de várias lojas do Reino Unido e vendidos como originais.
Nesse ano, Banksy inaugurou o ‘The Walled Off Hotel” (‘O Hotel Cercado’, em inglês). Localizado na Cisjordânia, a hospedagem oferece a “pior vista do mundo”. Dois anos antes, a “Dismaland”, uma versão “pesadelo” da Disney, ficou aberta ao público por cinco semanas.