Dez anos de dedicação diária. Na era pré-internet, ser fã exigia maior envolvimento. Vasculhar sebos no centro em busca de revistas antigas era um ritual para quem ansiava por informações sobre seus ídolos.
Esse é apenas um dos aspectos que, para os olhos de quem não compreende, podem soar como deslumbre adolescente. Para os fãs de rock, não há nada como a energia de um show, estar rodeado por pessoas que vibram na mesma frequência.
Quando você está lá, tudo causa alumbramento: repetir frases, a sincronia dos aplausos, a emoção de cantar junto com a banda... Queremos até o 'clichê' do isqueiro nos shows.
A tentativa prosaica da banda de se comunicar em uma língua estrangeira se transforma em êxtase compartilhado. A bandeira do seu país, que no dia a dia passa despercebida, agora se torna um símbolo de união.
Estranho ser é o roqueiro. Celebram a tristeza com um sorriso no rosto: cantam felizes canções melancólicas. Gastam uma fortuna em ingresso para, nos momentos mais intensos, cantar com os olhos fechados.
“Pessoa sem personalidade é o roqueiro”. Todos rejeitam a autoridade, mas adotam o mesmo uniforme. A camisa temática é um símbolo de pertencimento. Ao contrário de um festival, no qual a atenção se divide entre várias bandas, em um show solo a conexão é mais intensa. Não importa se é um hit ou um lado B, cada canção é celebrada com a mesma intensidade.
Para um estranho, a cena pode parecer caótica: uma massa de pessoas se espremendo, buscando o ângulo perfeito. Para nós, a visão perfeita é particular. É aquela que se forma em nossa mente, imersos na música. Inesquecível.
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02 de dezembro de 2005. São Paulo. Na plateia, um jovem, dentre tantos, atingia níveis de satisfação incomparáveis, posto que ser fã de rock é uma atividade superlativa. No palco, Pearl Jam.